Sociedade

40 anos com implantes de silicone: conheça a história de Libania

Dicas de Mulher

Atualizado em 16.04.24
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Como se o bisturi fosse uma varinha mágica capaz de transformar o sonho em realidade, muitas mulheres recorrem às cirurgias plásticas para alcançar as cobiçadas medidas perfeitas. Se você não tem um implante de silicone, provavelmente conhece alguém que tem. A tecnologia evoluiu, a medicina está preparada para realizar procedimentos menos invasivos e o acesso facilitado à informação possibilita escolhas conscientes.

Entretanto, assim como não se chega à lua da noite para o dia, com a mamoplastia de aumento não foi diferente. Na década de 1940, mulheres em busca de mamas mais volumosas aplicavam silicone industrial nos seios. Não funcionava muito bem, claro: o procedimento era perigoso e desencadeava infecções graves. Na mesma época, Marilyn Monroe se tornou um dos maiores ideais de beleza de Hollywood. O que fazer para ter os seios grandes como os da diva?

E as mulheres fizeram de tudo – desde as crenças popularmente passadas de vó para mãe e para filha (toma água na concha toda sexta-feira que os seios crescem!) até colocar enchimentos no sutiã. Mais tarde, porém antes da disseminação das cirurgias plásticas, as roupas íntimas passaram por uma ‘operação’, assim, os sutiãs com bojo, que ganharam ainda mais popularidade nos anos 90, conquistaram os armários femininos. Até que, em 1961, nos Estados Unidos, a primeira cirurgia de implante de silicone nas mamas foi realizada com sucesso.

De lá para cá, muita coisa mudou, inclusive a motivação da busca pela mamoplastia de aumento. Para além do ideal de beleza dos seios grandes, o implante de silicone é um aliado da autoestima feminina, aliás, está entre as cirurgias plásticas mais realizadas no Brasil. Como já dito, sob a competência de um profissional qualificado, o procedimento é seguro.

Para entender essa evolução, conheça agora a história de Libania Maria Paiva, que colocou silicone em uma época quando a informação não cabia na palma de sua mão.

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Extrovertida, Libania começa a conversar com o Dicas de Mulher demonstrando que é uma apaixonada pela vida. Aos 66 anos, aposentada, já fez de tudo um pouco: foi secretária, recepcionista, professora e empresária. Divorciada, mora em Moema, São Paulo, tem dois filhos, três netos. E colocou silicone pela primeira vez há mais ou menos 40 anos, na década de 80.

Sua família toda é vaidosa, “Até minha mãe fez plástica, imagina isso!”. Libania também é vaidosa, porém, na adolescência, não se sentia confortável com seus seios – desconforto que a acompanharia por muitos anos. “Queria ter o corpo bonitinho, como toda mulher vaidosa, isso e aquilo”, explica.

Dos 23 para os 24 anos, teve seu primeiro filho e, quando o bebê estava com 3 meses, Libania precisou fazer o desmame, pois não tinha leite suficiente. Apesar de não ter amamentado por muito tempo, “é óbvio que meus seios ficaram um pouquinho mais caídos. Mas eu pensei: tudo bem, um sutiã resolve. Não estava nem aí”. Após a segunda gestação, porém, Libania teve displasia mamária. Sua voz ganha um tom doído ao dizer que se sentia com “duas ‘tripas’ penduradas. Não tinha absolutamente nada de seios”. Foi aí que ela decidiu colocar o implante de silicone.

Silicone: não foi por padrão de beleza, foi por necessidade

Na primeira conversa com o médico, Libania já ficou sabendo que o implante de silicone seria a melhor opção por causa da displasia. Ela queria apenas retirar o excesso de pele, não queria implante, volume. Porém, “o cirurgião falou que [ela] ia ficar com duas ‘tampinhas de cerveja’”. Voltou para casa pensativa, com medo de os seios ficarem muito grandes, mas realmente não gostava do que estava vendo no espelho. Então, reanalisou a situação e, por fim, resolveu colocar a prótese, que foi inserida por cima do músculo, o mais próximo possível do tamanho natural.

Como em toda cirurgia, passou por um período de repouso e adaptação no pós-operatório. “Era eu e Deus com duas crianças pequenas. Imagina a loucura! Porém, eu tinha uma vantagem: uma empregada que me ajudava muito”. Sua recuperação foi boa – só ficava irritada por não poder dirigir.

Naquele tempo, não havia muitas informações sobre implante de silicone nas mídias. “Era uma prótese que precisava ser trocada após um determinado tempo, mas eu nem ligava para isso”. Sem saber desse fato, Libania seguiu a vida normalmente, apenas com a preocupação de “ir ao ginecologista todos os anos para fazer os exames de mama”. Até a experiência que teve em uma das consultas:

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“Eu já devia ter uns 20 anos de prótese. Fiz a ultrassonografia das mamas, tudo certinho. O médico pediu para repetir o exame, já estranhei e falei – opa, aí tem coisa! Uma das próteses estourou. Não percebi. Eu corria, tinha uma vida saudável e o problema não teve nada a ver com o tempo de amamentação”, explicou Libania. Antigamente, não existia o programa de substituição de prótese mamária, mas as próteses não são vitalícias. Assim, era necessário que a paciente fizesse um acompanhamento médico ano a ano para saber se as coisas continuavam bem.

Por uma questão de saúde, Libania precisou trocar as próteses. Segundo ela, se soubesse que havia a possibilidade de estourar, teria feito um acompanhamento anual, o que teria evitado o susto. Seu implante atual, porém, é muito mais moderno e não exige troca ou manutenção – somente se a pessoa quiser alterar o tamanho.

Na segunda cirurgia, estava mais esclarecida. Conhecia melhor o procedimento, o assunto já era mais comum na mídia. Ainda assim, Libania ficou ansiosa: “como com qualquer coisa nova. Quando você sai da caixinha, o novo assusta um pouco”. Entretanto, enfatiza que sempre teve pós-operatórios fantásticos e cirurgiões plásticos excelentes.

E o mais interessante: ninguém diz que eu tenho prótese. Elas são sempre bem naturais, são integrais. É uma coisa só. Estou curtindo mais elas hoje do que antes, porque eu posso andar tranquilamente sem sutiã e faço meu check-up mamário todo ano.

Libania Paiva

Segura de si, Libania diz que não se arrepende de ter colocado silicone. Sua motivação foi uma necessidade pessoal e não uma influência externa de padrões de beleza. Seu objetivo sempre foi ter o prazer de se olhar no espelho e se reconhecer na mulher que vê. Gostar de si. Se achar atraente – não para os outros, mas para ela. Em seu caso, o implante de silicone não aumentou os seios, aumentou a autoestima.

Depois do implante: na melhor idade

“Acho que sou das antigas”, foi o que Libania afirmou após contar que nunca gostou de decotes. Apesar disso, assim que entrou na menopausa, diz que ficou um pouquinho mais ousada e começou a usar decotes, especialmente por causa dos fogachos. Então, a opção pelo uso do decote também estava relacionada ao seu bem-estar. Segundo ela, o amadurecimento muda tudo:

Você vai quebrando certos mitos na cabeça, vai largando coisas e bagagens. No decorrer da vida, eu me preocupava com os seios, com a cintura. Aos poucos, você vai valorizando outra coisa, vai além do corpo.

Libania Paiva

Além do implante de silicone, Libania já fez outros procedimentos estéticos, como abdominoplastia, lipoaspiração e retirou o excesso de flacidez do rosto. “Hoje, temos o recurso de melhorar nossa imagem. Se te faz bem, vá em frente”. Ela para, procura as palavras, respira fundo, “eu tenho certos problemas com meu corpo – acho que como toda mulher. Mas não em relação aos seios!” E está tudo bem: o importante é olhar para si, focar no autocuidado, na sua autenticidade.

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E Libania não gosta que ninguém mexa nos seus seios: colocou silicone para si e não para os outros. Apesar disso, não tem problema em ser vista e, na praia, usa biquíni pequenininho. Não se acha velha, pelo contrário, se entende como “uma mulher vivida, com muitas experiências”. Após se divorciar, viaja, gosta de ir à academia, cinema e teatro, tem um grupo de amigas, “a gente sai sempre, nenhuma é casada, nenhuma namora, todas moram sozinhas. Eu acho que isso é uma revolução da mulher. É bom se amar, é bom ser sua melhor companhia”.

A filha também colocou silicone bem jovem, aos 18 anos. Hoje, “amamenta normalmente e minha netinha está quase completando dois anos”. Sem tabus, despreocupada com a opinião alheia, recomenda: “está pensando em colocar silicone? Pense em você!”

Libania já aprendeu muito com a vida e, por isso, aconselha: “é preciso agir com o coração, ele guia melhor que a cabeça. Muitas vezes, claro, a gente tem que pesar os dois, mas o coração sempre me guiou mais do que a cabeça”. Quem vive para agradar os outros, perde a melhor parte – se perde de si. Mas esta é a história de uma mulher que se encontrou. Viveu a maternidade sem romantização, teve displasia mamária e optou pelo implante de silicone numa busca por amor-próprio. Assim, voltou a se olhar no espelho e, aos 66 anos, o que vê é uma mulher realizada.

Muito se fala sobre empoderamento e sobre aceitar o próprio corpo. Mas só você conhece sua história. Empoderar-se é, antes de tudo, agarrar a liberdade e assumir o poder de escolha. Então, colocar silicone é uma decisão sua e de mais ninguém. Assim como Libania, independentemente do que faça, faça sempre por você!

Toda vez que você me lê, a gente se torna um pouquinho amigas. Acredito na escrita como ponto de encontro, fofoca, compartilhamentos e trocas. Sou mestre em literatura. Poeta. Revisora. Redadora. Que o nosso tempo juntas seja divertido.