Bem-estar

Reaprendendo a se amar: a volta da autoestima após o câncer de mama

Dicas de Mulher

Atualizado em 25.08.23

Quando se fala sobre implantes de silicone, muitas pessoas já pensam em algo totalmente estético, imaginando que a mulher sempre deseje aumentar o tamanho das mamas, ou seja, realizar aquele sonho de “ter peitão”.

É claro que, se a mulher tem esse desejo, não há problema algum. Mas o implante mamário também pode ser usado como uma forma de recuperar a autoestima e voltar a se sentir bem com o próprio corpo após o câncer de mama, por exemplo, principalmente nos casos em que é necessária a retirada de grande parte do tecido mamário.

Aliás, hoje, os médicos se preocupam com muito mais do que apenas a retirada do tumor. O cuidado começa no ato de dar a notícia e se prolonga no interesse em devolver qualidade de vida para as mulheres e permitir que consigam voltar a ter uma visão positiva do próprio corpo e, especialmente dos próprios seios. Nesse sentido, todas as mulheres que passam por retirada total ou parcial da mama após câncer de mama têm direito à reconstrução mamária e isso inclui a opção de colocar a prótese de silicone.

Essa foi a situação vivida por Nathalia Marcélia Gonçalves da Silva, 37 anos, moradora de São Paulo, que conversou com o Dicas de Mulher contando um pouco de sua experiência. Para ela, o silicone não foi apenas um desejo, mas uma necessidade, por mais que ela já cogitasse a possibilidade de aumentar o tamanho dos seios com o implante antes de receber o diagnóstico do câncer.

Nathalia conta que não teve tempo para pensar muito ou se permitir ter dúvidas sobre colocar ou não o silicone. No caso dela, a situação ia muito além do estético. “Nem pensei muito em tudo, estar com câncer de mama lança fora qualquer coisa. O foco é ficar bem”, explica.

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Além disso, ela optou pela retirada dos dois seios, por já ter histórico de câncer de mama na família: “eu escolhi fazer as duas mamas, a que estava doente e a que não estava, meio que ter uma prevenção”.

Foram quatro meses conversando sobre o assunto com a mastologista que a atendeu desde o diagnóstico do carcinoma ductal grau III e acompanhou em todo o processo. Em seu caso, Nathalia não precisou escolher um cirurgião, sua médica foi a responsável também pela colocação do implante.

“Não tive medo da colocação das próteses, mas, sim, da cirurgia”, comenta. Nathalia também conta que, antes de colocar silicone, achava ruim ter seios pequenos e cogitava colocar os implantes, mas tinha pavor de hospitais, algo que, depois do câncer, faz parte de sua rotina.

Para Silva, o silicone entrou como uma forma de recuperar sua autoestima e a identificação com seu próprio corpo. Tanto que relata que ficou surpreendida após a cirurgia, ao notar que os seios estavam muito próximos do natural, mesmo com a remoção de todo o tecido mamário. “Meus seios naturais eram bem pequenos e eu até preferi que não alterasse o tamanho. Eu só não queria ficar reta, sem nada”, complementa. Além disso, por ser um câncer ductal, não foi necessário retirar o bico do seio, o que ajuda a manter a naturalidade das mamas.

Um detalhe curioso foi a reação das amigas de Nathalia: “elas achavam que eu iria ficar peituda e vibravam. Era estético, mas, para mim, o tamanho já não era tanto uma questão, tirariam todo o meu tecido mamário de ambas as mamas” – e, nesse sentido, sua busca era por voltar a ter o corpo de antes desse processo.

Durante todo esse processo, sua fonte de apoio mais próxima é seu marido, quem, segundo ela, faz questão de relembrá-la todos os dias que a ama como é e como está. Ainda assim, ela não se sente pronta para expor seu corpo: “só permito que meu marido e minha mãe me vejam nua”.

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Mesmo ainda estando no processo de reidentificação com o próprio corpo, Nathalia vê como muito positiva a possibilidade de reconstruir as mamas com implantes de silicone: “agradeço a Deus por ter essa oportunidade. Porque, na época que minha mãe fez a cirurgia para retirada do tumor, não tinha essa possibilidade, por exemplo, de já sair com o implante. Ela ficou cinco anos com uma mama só e na outra ela colocava enchimento no sutiã. Ela teve que lidar com essa falta e só depois de cinco anos conseguiu colocar silicone nas duas mamas”.

Em situações como a de Nathalia, a rede de apoio é muito importante. Para ela, família e amigos a ajudaram a passar pela trajetória desde o diagnóstico do câncer até o pós-operatório e o retorno às atividades. Enquanto esteve em tratamento oncológico, ouviu muitos relatos de pacientes deixadas por seus companheiros por questões estéticas, mas seu marido repetiu desde o começo que continuaria ao seu lado – o que realmente fez.

A família também se aproximou mais. Os pais foram os que estiveram mais próximos, mas seu irmão e sua irmã também passaram a ficar por perto e acompanharam sua luta. Em relação às amigas, Nathalia citou Telma, a primeira para quem ligou assim que soube do tumor. “Ela veio aqui em casa e choramos juntas quando contei do diagnóstico. Fora essa minha amiga Telma, eu também tive o amparo de duas amigas que são enfermeiras, uma delas chegou a me auxiliar no pós-cirúrgico”.

Além disso, Nara, uma amiga que vivia em outro município e acabara de ter um bebê, entrava em contato todos os dias pelo WhatsApp. As amigas do trabalho também foram especiais neste momento, “mantivemos contato por telefone, por WhatsApp, por áudios, nossos podcasts, brincamos até hoje que nossos áudios são intermináveis”.

“Eu tenho uma rede de apoio, não posso dizer que não tenho”, Nathalia fez questão de ressaltar e ainda contou um pouco sobre como a terapia foi fundamental para ela. Uma psicóloga a acompanhou de 2018, quando ocorreu o diagnóstico, até o ano passado, quando passou a se consultar com outra profissional.

Não é fácil lidar com as consequências do câncer de mama, e Nathalia entende que cada paciente oncológico reage de uma forma diferente. Mas estar viva e ter essa possibilidade de colocar a prótese logo após a retirada do tumor são motivos que a fazem agradecer diariamente e inclusive a impulsionam a continuar estudando e focando em sua carreira de professora. E feliz com sua vida e com o corpo onde habita.

Escritora com 8 livros publicados e apresentadora de um programa de rádio sobre literatura nacional, o Capivaras Leitoras. Ama ler, viajar e passar um tempo com a Buffy, sua cachorrinha vira-lata.