Dicas de Mulher
Buscar em si mesmas problemas estéticos que precisam ser melhorados é um comportamento normal nas mulheres. No entanto, muitas vezes essa distorção de imagem pode se tornar um problema, principalmente quando se torna um comportamento obsessivo de alterar o próprio corpo a qualquer custo – nunca resultando em satisfação. É o chamado transtorno dismórfico corporal, e o Dicas de Mulher conversou com especialistas para entender melhor seus mecanismos e origens.
O que é distorção de imagem?
No transtorno dismórfico corporal, mais do que uma insatisfação com a aparência, há um incômodo consigo mesmo. A pessoa “fica tentando encontrar no corpo algo para contar esse desconforto por ser quem é”, considera a psicóloga e psicanalista Raquel Baldo, de São Paulo.
A distorção da autoimagem pode começar a se tornar um transtorno quando atrapalha a vida normal da pessoa. “A distorção é a característica central do transtorno dismórfico corporal, porém associado a isso há a preocupação excessiva com essas características, o que traz prejuízo social, ocupacional ou em outras áreas importantes”, explica a cirurgiã plástica Mayara de Castro Nogueira, responsável pelo núcleo de cirurgia corporal da Clínica Facialteam Brasil.
Sintomas do transtorno dismórfico corporal
Normalmente, esse quadro tende a aparecer com comorbidades como depressão e transtornos alimentares, mas varia muito de pessoa para pessoa.
E como se percebe quando isso está acontecendo com você? Um dos pontos importantes, segundo a psicóloga Adriana Drulla, pioneira no Brasil em Terapia Focada na Compaixão, com pós-graduação pela University of Derby (Inglaterra), é que tudo começa a ficar subordinado à sua aparência. “O esforço para manter a imagem com estética, dieta e exercício ocupa um espaço absurdo na vida daquela pessoa e outros objetivos perdem relevância”, classifica a especialista. Ela prossegue reforçando como há uma eterna insatisfação: mesmo que a pessoa esteja linda, ela não se sente realizada.
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É normal que outras pessoas também nos apontem esse comportamento, explica Baldo, e a reação será a negação, de forma intensa e quase obsessiva. “O que também é possível reparar é o quanto eu reclamo ou o quanto eu insisto num tema e percebo que por mais que eu faça algo por aquilo, eu nunca estou satisfeita. Permanece aquela sensação de injustiça, de imperfeição, de não atingir resultado, de incompletude”, descreve a psicóloga.
Fora isso, a pessoa ainda pode se sentir desconectada socialmente, vazia e não querer se expor a situações em que será vista por outras pessoas, se isolando. A pessoa pode até apresentar alguns sintomas semelhantes à depressão, porém em vez de não apresentar forças para mudar a si mesmo, como um deprimido, ela vai direcionar os esforços dela em alterar seu corpo de forma compulsiva, como diferencia Baldo.
Eu tenho isso, e agora?
Se você se reconheceu, saiba que não está sozinha. Não é possível mensurar exatamente quantas pessoas no mundo esse quadro acomete, mas, pela experiência clínica dos especialistas entrevistados, não são poucas.
Normalmente, esse tipo de quadro pode ser tratado em consultório por psicólogos, e as abordagens vão variar conforme a linha do especialista escolhido. Drulla aponta como essas inseguranças podem vir da infância ou de relacionamentos no começo de nossas vidas. “Vítimas de abuso costumam desenvolver esse tipo de quadro, já que no abuso ela se sente culpada pelo que houve, desenvolvendo uma autoaversão e sensação de inadequação”, considera a especialista.
Já Baldo aponta a importância do especialista olhar para esses casos com delicadeza, apontando dois momentos no tratamento:
- O primeiro é quando o paciente precisa se estabilizar e retoma a normalidade em sua vida, voltando a trabalhar, estudar e conviver com as pessoas que ama;
Então, o segundo passo é entender a origem desse sentimento e dessa distorção e tentar trabalhá-la mais profundamente. - Outro ponto importante é prestar atenção aos estímulos que recebemos via redes sociais. Talvez sair um pouco das telas possa ajudar: “o que a gente vai recomendar a todas as pacientes é que elas substituam as horas de tela por mais tempo de qualidade com as pessoas com quem convivem e que amam”, reforça a cirurgiã plástica Manfrim.
Baldo ainda reforça como é importante pensarmos em autoestima de uma forma diferente: “ela é muito confundida com ser especial, ser o melhor, o maior, mais bonito, com a ideia do máximo, do topo da montanha, nota dez. Mas todas essas concepções não são autoestima: isso na verdade são discursos exploratórios da estima de uma pessoa”, considera a psicóloga.
E conclui: “você não precisa ser o melhor no que você faz: você pode ser bom e isso pode ser o suficiente. O bom é muito bom e muitas vezes atende àquilo que a gente precisa e até mais”. Por fim, a especialista reforça a importância de buscarmos hábitos, conceitos e exercícios que nos façam refletir o valor de sermos quem somos. “Qual a beleza de ser quem eu sou? Qual o valor de ser quem eu sou? E assim lidar com a frustração de que eu não serei o que o outro é”, elabora a psicanalista. Algo para se refletir, com ou sem distorção de autoimagem.
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