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Vivemos em um mundo machista e, apesar de injusto, isso não é nenhuma novidade. Estamos a todo momento em alerta e o movimento feminista está lutando, em uma tentativa exaustiva de evitar uma exposição a essa doença social. Mas, no fim, sempre somos pegas de surpresa.
Uma prática muito comum no universo masculino é supor – mesmo que inconscientemente – que nós, mulheres, somos inferiores intelectualmente. Por isso a necessidade de alguns homens em roubar nossa voz, o que pode acontecer a partir do mansplaining.
Afinal, o que é mansplaining?
O termo tem origem na língua inglesa e une os vocábulos man e explaining, que significam “homem” e “explicando”. Trata-se, portanto, de uma prática infeliz por parte de homens que acreditam que as mulheres carecem de uma “explicação mais clara” sobre qualquer assunto. Explicação que, na cabeça deles, um homem é mais capaz de elaborar, ignorando o lugar de fala da mulher.
Pode soar até esquisito em um primeiro contato – “mas eles só querem ajudar!”. Porém o mansplaining é extremamente problemático pois ele ocorre em situações em que a mulher não precisa de explicação ou quando diz respeito a uma área que ela domina, trabalha ou estuda muito.
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E, acredite: existem homens que querem, além de tudo, nos explicar sobre assuntos que dizem respeito somente ao corpo e universo da mulher! Surpreendente…
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O mansplaining, infelizmente, é apenas um dos processos que circulam em todos os meios para nos silenciar. Ele anda lado a lado com o gaslighting, manterrupting e bropriating.
- Gaslighting: tentativa de manipulação com a finalidade de fazer a mulher acreditar que ela é “louca”. Ocorre, geralmente, em situações delicadas entre o casal em que o homem descredibiliza os sentimentos e emoções da companheira, fazendo com que ela se sinta culpada por algo que não devia.
- Manterrupting: quando um homem interrompe o discurso de alguma mulher de modo a impedir que ela emita alguma opinião sobre qualquer tema. Na grande maioria dos casos, antecede o mansplaining.
- Bropriating: apropriação da fala de uma mulher por parte de um homem. Nesse caso, o homem age como se aquele discurso fosse dele, sem atribuir os créditos à autora de forma devida.
Nós estamos expostas a todas essas ações a todo momento, e às vezes nem nos damos conta de que o mansplaining pode nos afetar até em ambientes mais formais.
Em quais situações o mansplaining pode ocorrer?
Em casa, no trabalho, na sala de aula ou em uma mesa de bar: para o mansplaining acontecer só precisa de um homem com a intenção de se mostrar superior intelectualmente. Veja alguns exemplos de como identificar essa ação em casos específicos:
No trabalho
Se você trabalha na área para a qual você se preparou durante anos e anos de estudo, ficaria no mínimo desconfortável se alguém te explicasse coisas óbvias.
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Imagine só: você, há anos atuando com advogada, e um colega acha que deve te explicar como montar um processo. Você foi a melhor aluna da turma de administração e seu chefe acredita que você não sabe organizar planilhas, por isso, ele te explica. Uma excelente professora, seus alunos te adoram, e o diretor acredita que deve te mostrar como elaborar exercícios.
No ambiente acadêmico
O universo acadêmico já é, na maioria das áreas, dominado pela presença masculina. Então é bastante comum que esse espaço propicie o mansplaining, independente do título.
Você pode ser graduanda, mestra, doutora ou pós-doutora, as chances de um homem te explicar o que você já sabe são grandes.
Já pensou que, depois de uma década de dedicação para a sua pesquisa, um professor do seu departamento pode querer te ensinar sobre o tema da sua tese de doutorado? Você não precisa disso.
No trânsito
Já existe um estereótipo de que mulher não sabe dirigir circulando na sociedade. O trânsito é, então, um dos espaços em que pode ocorrer o mansplaining com mais frequência.
Se você comentar com um homem que seu carro está com defeito, por exemplo, ele prontamente pode tentar solucionar o problema e te explicar as possíveis causas, mesmo que você não tenha pedido.
No namoro ou casamento
Esse é, talvez, um dos casos mais delicados de todos, pois há o risco de se caracterizar um relacionamento abusivo. A mulher pode ser submetida a uma sucessão de manterrupting, mansplaining e gaslighting que, talvez, ela nem perceba logo de início.
Em uma relação cheia de discussões pesadas, o homem pode se apossar da voz de sua parceira e buscar explicações para questões que dizem respeito somente a ela – como o corpo, desejos sexuais, sentimentos da mulher.
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Após alguma reclamação da companheira, há uma tentativa de desvirtuar a situação e fazer com que ela se sinta culpada por algo tão simples: sentir e falar de seus sentimentos. Imagina a bola de neve?
Em conversas casuais
Nem as mesas de bar estão isentas do mansplaining. Você está em um ambiente informal, com amigos, querendo conversar sobre assuntos que livrem sua cabeça das preocupações diárias.
De repente, um homem questiona a cerveja que você pediu e tenta te explicar que seu sabor é muito forte para o paladar feminino e, não satisfeito, te recomenda outra. E esse discurso é todo trabalhado em argumentos que mostram como o locutor entende muito do assunto.
Acontece que você também entende, não é mesmo? E você vai beber aquilo que quiser.
Esses foram poucos exemplos de mansplaining no nosso dia a dia, mas há tantos outros casos em que isso pode acontecer… Será que existe uma forma de evitar?
Como se livrar do mansplaining?
Não há o que nós, mulheres, possamos fazer para evitar que o mansplaining aconteça. Cabe aos homens tomarem consciência e procurarem uma desconstrução e reflexão contínua, pois todo ser humano é passível de evolução.
O que você pode fazer é acreditar cada vez mais no seu potencial e nunca, nunca mesmo, duvidar de você mesma. Você é merecedora de todas as suas conquistas, e há muitas mulheres por aí para você se inspirar!
Helena Montemezzo
Professora de inglês que ama escrever tanto quanto ama ensinar. Encantada pelo tamanho do mundo, universo feminino, crianças e sorrisos sinceros.