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Você já ouviu falar em micromachismo? Esse é mais um termo que precisa ser somado ao nosso glossário feminista pessoal, pela sua grande importância. Ele foi criado e popularizado na década de 90 para designar pequenas violências presentes na vida das mulheres. Continue a leitura para entender mais sobre o assunto.
O que é micromachismo e como identificá-lo
O termo micromachismo foi criado em 1991, pelo psicoterapeuta espanhol Luis Bonino Mendez. O conceito se espalhou na América Latina, onde o problema cresce cada vez mais, entretanto, nos outros continentes, não é muito diferente. De acordo com o estudo de Mendez, os micromachismos são atitudes discriminatórias direcionadas às mulheres. Estão tão presentes no cotidiano que, muitas vezes, não são consideradas violências.
Embora muito popularizado, o micromachismo é questionado por muitos especialistas. De acordo com alguns pesquisadores, é preferível chamar o fenômeno de “machismo cotidiano”, pois o termo descrito por Mendez minimiza os impactos dos gestos. Vale ressaltar que o prefixo micro não está relacionado com o impacto da violência (não é uma violência pequena), mas sim a várias ações que podem passar despercebidas.
Se você já ouviu um comentário que te deixou muito incomodada, constrangida ou diminuída por ser mulher, provavelmente já vivenciou uma situação de micromachismo. A seguir, confira alguns exemplos para aprender a identificar a violência cotidiana.
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Exemplos de micromachismo
Seja em casa, na rua, no ambiente de trabalho ou entre amigos, o micromachismo atinge milhares de mulheres todos os dias. É importante dizer que esse tipo de violência também é perpetuado por mulheres, pois é fruto de uma construção histórica, patriarcal e social. Confira alguns exemplos:
- Alguém pergunta se você está nervosa por estar “naqueles dias”, quando, na verdade, você só está sendo assertiva.
- Você sai para passear e recebe uma “buzina elogiosa” na rua.
- No ônibus, o homem que senta ao seu lado abre as pernas e ocupa o espaço do banco que lhe convém e também o seu.
- Quando você divide moradia com um homem, porém ele não participa das atividades domésticas.
- Quando você tenta explicar que as tarefas de casa são responsabilidades de todos que compartilham o espaço, e recebe comentários do tipo – “as mulheres de hoje não são como as de antigamente”.
- Ouvir que “caso você não mude seu temperamento, nenhum homem vai te querer”.
- Quando sugerem que se você não aprender a cozinhar, não vai casar.
- Se você é assediada enquanto passeia com um homem, outra pessoa vê a situação de fora e chama a atenção do assediador dizendo – “não está vendo que ela está acompanhada?”.
- Quando dizem algo como – “você só tem filhos homens, coitada! Tem alguma mulher, mãe ou tia que te ajuda nas tarefas domésticas?”.
- Quando um colega de trabalho diz não gostar de trabalhar com mulheres, pois são muito sentimentais.
- Quando questionam sua maternidade por você estar se divertindo sem a criança.
- Quando falam que mulher serve apenas para ser recatada e do lar.
- Quando interrompem a fala de uma mulher que domina determinado assunto.
- Quando te objetificam em algum elogio ou comentário.
- Quando te impedem de fazer uma determinada atividade, pois ela é considerada “coisa de homem”.
- Quando alguém pressupõe a sua sexualidade como heterossexual por você ser mulher.
- Quando dizem que apenas homens podem gostar de esporte.
- Quando dizem – “não vai ter filhos? Já está velha”, partindo do pressuposto que você precisa querer ser mãe.
- Quando falam que você deveria ser mais feminina.
- Quando controlam seu jeito de falar, pois seu vocabulário não é adequado para uma mulher.
- Quando alguém come na sua casa e te elogia pela comida sem cogitar que um homem preparou a refeição.
Se você se identificou, fique atenta, converse com outras mulheres sobre o assunto e compartilhe a informação. Comentários opressivos não são apenas “uma brincadeirinha”, eles perpetuam o machismo.
Por que é importante combatê-lo
Apesar dos micromachismos parecerem inofensivos e, por vezes, até considerados elogios, eles são, sim, muito perigosos. Combater a violência contra as mulheres precisa partir do micro para o macro, ou seja, do cotidiano para as estruturas de poder. Isso porque não há mudança se a raiz do problema continua se alastrando. As pequenas atitudes aprofundam as desigualdades de gênero, justificando violências mais brutais, como assédio e a violência física.
Para combater o micromachismo, o primeiro passo é a conscientização. Explique a gravidade do assunto para sua mãe, tia, vizinha, prima etc. Além disso, sempre que escutar alguém soltando um comentário opressivo – na famigerada zoação – corrija e explique o porquê. Se você é mãe, se tem irmãos pequenos, um sobrinho, priminho ou filho de uma amiga, promova uma educação livre do machismo. Diante de situações envolvendo violência, não fique calada, denuncie!
Como posto anteriormente, o prefixo micro não diminui a gravidade do problema! Confira a matéria sobre violência contra a mulher e continue lutando para quebrar a misoginia estrutural, mirando um futuro mais equalitário. O desafio é grande, mas você, mulher, não está sozinha.
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Jarli Guajajara
Jornalista e mulher indígena. Integrante do coletivo de Mulheres Indígenas e Quilombolas da UFG. Faz pesquisas sobre cultura indígena e racismo. Apaixonada por gatos.